21/04/2022 às 09h19 - atualizada em 25/04/2022 às 12h44
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Redação
Cotia / SP
Cresci, felizmente, muito próximo ao meu avô materno – e passei férias deliciosas junto de meus avós paternos. Aprendi então, desde cedo, a conviver com essa calmaria que a companhia de pessoas de mais idade é capaz de transmitir. O descanso noturno com o rádio ligado, o despertar com os afazeres domésticos; a hora do cafezinho, de tarde. Tudo feito quase que de forma religiosa, com prazer, com certo ar de sorriso, de satisfação em ter vigor suficiente para cuidar do lar. Aliás, este seria o verdadeiro exemplo da ideia de beleza na velhice, para Aristóteles.
Nas noites de sábado, assistíamos ao programa de música caipira. E qual não era a nossa alegria quando meu avô interrompia a música tocada para contar uma de suas próprias histórias; então, eu ouvia, completamente deslumbrado pela atmosfera de outros tempos, sobre coronéis e fazendeiros, sobre os bailes e sobre as aparições que ele mesmo testemunhara.
Natural de Conselheiro Lafaiete, ele contava e recontava, com ardente saudade da roça, suas aventuras, dignas das telas de cinema ou de um romance das dimensões de O tempo e o vento. Não faço ideia se serei capaz, um dia, de eternizar suas memórias; mas elas permanecerão para sempre em minha mente e em meu coração, recordadas junto à voz atenorada – como a de outro mineiro, Carlos Drummond – que as tece.
Dessas várias e engraçadíssimas histórias, destacam-se as de seu padrinho, fazendeiro A., que tinha muita influência – e quase o domínio – sobre a política da cidade; das aventuras junto de seu cavalo rajado, e dos raptos e fugas que os jovens apaixonados daquela época, sem o menor senso de consequência, empreendiam.
Alguns não entendem meu ar pouco jovial. Para esses eu digo que tal ar é fruto do convívio e de longas conversações com homens como Sebastião de Oliveira e Manuel Vieira, o mineiro de Conselheiro Lafaiete.
Heber de Oliveira
1 comentários
ELIEL DE OLIVEIRA
· São Paulo Muito bom!! Dizem que relembrar é viver, ainda mais com tanta classe ao desenrolar o passado, se torna ainda melhor! Agradeço ao Heber por tamanha dedicação em tornar vivo e público um legado que não se apaga ! Em 21/04/2022 ás 11h07Heber de Oliveira
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